terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um rio sadio não tem preço, por Stephen Leahy - IPS

Nagoya, Japão, 25/10/2010 – As represas sobre os rios podem gerar eletricidade, mas para construí-las frequentemente são sacrificadas pescas da alta qualidade, afirmam especialistas. “É muito difícil avaliar a pesca continental em dólares, porque representam muito mais do que o valor do pescado desembarcado no porto”, disse Yumiko Kura, do WorldFish Center (Centro Mundial de Pesca), em Phnom Penh. Yumiko é coautora do informe “Colheita Azul: Pesca Continental como Serviço Ambiental”, que destaca a importância destas existências nas dietas, especialmente infantil, não apenas quanto à proteína que fornecem, como também em matéria de micronutrientes, entre eles vitamina A, cálcio, ferro e zinco.

“Estudos detalhados realizados em Bangladesh, por exemplo, mostram que o consumo diário de pescado pequeno contribui com 40% das necessidades diárias de uma família de vitamina A e 31% de cálcio”, segundo o  informe apresentado no dia 23 na 10ª Conferência das Partes do Convênio sobre Diversidade Biológica, que  acontece até o dia 29 em nesta cidade. Além disso, o estudo indica que geram mais de 60 milhões de empregos  em tempo integral e parcial na pesca e em outras atividades como o processamento, e que metade destes  trabalhos é feita por mulheres.

Um sistema fluvial como o do Rio Mekong conta com uma das reservas pesqueiras mais produtivas do mundo,  em boa parte porque há poucas represas e porque mantém a maior parte de seus pântanos, disse Yumiko à IPS.
Os pescadores do Mekong capturam mais de 500 espécies. Sua própria diversidade mantém a saúde do Rio, e  cerca de 22 milhões de pessoas no Camboja e Laos dependem dessa abundância. Por outro lado, os sistemas  fluviais dos países industrializados são quase desertos biológicos, com poucas espécies, segundo um estudo  divulgado este mês na revista especializada Nature.

Paradoxalmente, os países ricos empregam enormes quantidades de concreto para obter energia e controlar  inundações, dizimando as capacidades naturais dos rios de fornecer água limpa e alimento, diz o estudo. “O que nos deixou de boca aberta é que algumas das maiores ameaças mundiais estão nos Estados Unidos e na Europa”,  afirmou à IPS para uma matéria anterior Peter McIntyre, coautor do informe da Nature e zoólogo da Universidade  de Wisconsin-Madison,  nos Estados Unidos.

Os peixes também servem como importantes vínculos entre os ecossistemas. Os nutrientes e a matéria orgânica de seus  ovos, cadáveres e excrementos ajudam a manter a produção de algas, larvas de insetos e outras espécies de  peixes em rios e lagos, segundo o relatório compilado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente  (Pnuma) e o WorldFish Centre. Quando as populações de peixes diminuem, pode haver sérios efeitos colaterais  para outros organismos, disse Jacqueline Alder, do Pnuma.

A morte em grande escala de peixes corégonos-de-artedi no Lago Mendota, nos Estados Unidos, provocou  mudanças na composição do plâncton, reduziu a quantidade de nutrientes e também a biomassa das algas.
“Ao contrário dos oceanos, as águas continentais são muito vulneráveis e as mudanças podem acontecer muito  rapidamente”, disse Jacqueline à IPS. O informe alerta que, apesar de mais de 40 anos de produção mundial  constante, estão ocorrendo rápidas mudanças ambientais que colocam em risco a viabilidade das futuras populações de peixes, bem como o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

As represas, a agricultura insustentável e as grandes extrações de água para fins industriais, junto com a  contaminação e a descarga de esgoto, têm impactos significativos sobre os sistemas fluviais, segundo o estudo.
O Japão tinha pescas continentais produtivas, mas agora restam muito poucas, quase totalmente por culpa das  construções, disse Yumiko, que é japonesa. Nas últimas décadas, muitos dos rios do país foram cercados com  concreto, em uma tentativa de olhar curto para controlar as inundações e manter os canais de transporte. Os rios  precisam poder fluir para o mar, permitindo que a vegetação costeira e os pântanos os mantenham sãos e  produtivos, acrescentou.

A represa de Pak Mun, construída no começo da década de 1990 em um afluente do Rio Mekong, na Tailândia,  causou uma redução entre 60% e 80% nas capturas. Seus defensores disseram que a nova reserva criada pela  represa produziria 220 quilos de peixes por hectare, mas chegou-se a apenas dez. Desde 2001, é aplicada uma  política pela qual são abertas as comportas da represa temporariamente, o que devolve cerca de 130 espécies ao  Rio Mun, reduzindo o impacto da represa nas existências pesqueiras.


Disponivel:http://www.agua.bio.br/pagina_9.htm
Acesso: 30/11/2010


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