Olá! Nesta postagem, fazemos referência à um texto de entrevista a Dario Luis Borelli, et al. de Aziz Ab'Saber intitulado "Aziz Ab'Saber: Os problemas da Amazônia brasileira" que aborda diversas questões relacionadas à Amazônia.
Especialmente no item "O problema da fertilidade dos solos" deste artigo há conteúdos muito interessantes relacionados às caraterísticas físicas do rio Solimões, indicando a rica fertilidade de seus solos, dentre outras informações. Abaixo, segue um pequeno trecho deste artigo, que pode contribuir para o melhor conhecimento deste rio.
"As planícies regionais do Solimões e do Amazonas possuem um dédalo de lagos, diques marginais, velhas restingas, velhos meandros com um pouco de areia em forma de restingas alongadas. Trata-se de um dédalo de lagos de diferentes tipos, alguns meio redondos e outros meio paralelos aos volteios de antigas restingas que ficam no centro da planície. O povo há muito tempo descobriu a fertilidade dos solos dessas planícies, assim como a constante possibilidade de pesca no rio Amazonas, nos riozinhos, igarapés e lagos.
Os informes sobre a Amazônia na década de 1940 possibilitavam avaliar uns quatro milhões de pessoas, dos quais dois milhões e meio moravam ao longo da planície por causa da fertilidade e da oferta de recursos. Isso me agradou profundamente saber, mesmo porque o quadro de hoje é extremamente mais complexo depois da invasão capitalista da Amazônia, a qual não foi bem estudada geograficamente, mas que a gente pode rever.
Também queria dizer que a razão de ser dessa fertilidade excepcional da planície, apesar dos dédalos dos lagos, está relacionada com o trânsito dos sedimentos que vêm desde os Andes ou pré-Andes, atravessando várias regiões de formações geológicas, sedimentares etc., e depois vão correndo e acrescentando os sedimentos de formação, retirados das pequenas barreiras, que, no caso, seriam falésias fluviais, de onde eram retiradas argilas e areias, que vão se misturando aos sedimentos que vêm de longe através de um complexo processo de comércio de sedimentação aluvial. Isso foi bem estudado e bem exposto pelo professor Wolfgang Junk, que é um dos grandes estudiosos da Amazônia.
Existe uma grande diferença entre os solos das planícies de rios afluentes e o conjunto de solos da faixa aluvial Solimões-Amazonas. Na realidade, os mais ricos solos de toda a Amazônia, que se destacam em relação aos imensos setores de solos mais pobres, constituem uma grande exceção. Convém lembrar que, apesar dos mosaicos de lagos, furos, igarapés e paranás-mirins, foi essa planície aluvial extensa o primeiro conjunto de solos úteis para as populações amazônidas tradicionais, por meio de cultivo tipo vazante, criação de gado bovino e pesca em todas as correntes e massas fluviais. Lembro que alguns técnicos mal preparados para entender a importância popular das chamadas várzeas amazônicas, em termos de sobrevivência de populações ribeirinhas, pressionavam empresários e governantes para fazer grandiosas plantações de arroz no espaço total das planícies. Uma proposta que demonstra uma lamentável falta de compromisso com o social regional.
Embutido em vastas áreas de tabuleiros ondulados e baixos platôs, o curso d'água do Solimões-Amazonas, através de seus transbordes atuais e subatuais, conforma uma planície aluvial de 15 a 20 km de largura, em média, sendo que o grande rio apresenta, ele próprio, uma largura de 4 a 5 km, de forma que entre a largura do rio e a extensão lateral das planícies existe uma relação de apenas um para quatro, ou, eventualmente, um para seis. Portanto, aquilo que o povo da Amazônia chama de várzea, não é tão largo e tampouco homogêneo devido ao dédalo de lagoas, furos, igarapés e paranás-mirins" (AZIZ AB'SABER, 2005).
Referências: AB´SABER, Aziz. Problemas da Amazônia brasileira. Estudos Avançados vol. 19, n° 53, São Paulo, IEA-USP, janeiro-abril 2005.Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000100002&script=sci_arttext&tlng=pt